O casamento é uma das tradições mais antigas da nossa História. Tratado como aliança, possibilitou acúmulos de grandezas e legados (in) voluntariamente abastados. De qualquer forma, como ato político, o casamento foi e ainda é carregado de significados e tradições que, sob olhos desatentos e acortinados pelo vislumbre dos tecidos, doces e rosas, parece uma sutil e conveniente maneira de dizer “eu amo você!”.
Mas,
o que eu acho disso? Bem, não é novidade que desde minha infância me rebelei
contra os caprichos de uma sociedade fadada às atenções do masculino, logo, não
seria através da opulência que ganha corpo e se converte em um minúsculo momento
de exclusividade que minhas críticas sucumbiriam à tradição, não é verdade?!
Embora
a compreensão do hábito e da defesa para que se atendam necessidades lapidadas
essencialmente em mulheres ainda crianças, o casamento não passa despercebido
no que tange suas questões mais intrigantes e eficazmente turvas. Assim, para
mim, a efemeridade do ato supõe patrocínios ao masculino e, como tal, zela pela
manutenção de uma conjuntura que roga pela lei do mais forte, isto é, o homem.
Posto
isso, proponho meus questionamentos mastigados e engolidos com muitas taças de vinhos
e outras formas de álcool (o que vier) enquanto observo e PARTICIPO das hipnóticas,
para não dizer soníferas, plásticas de alianças. A primeira delas está voltada
para a entrada do noivo como sujeito que abre a cerimônia, que, por sua vez,
aguarda fechada em choros, suspiros e muita paciência, pela personificação da
castidade traduzida em sentidos na cor que ela veste – o branco e, por
conseguinte, a noiva.
Se
só a intencionalidade do vestido já me incomoda, que dirá o requisito de quem a
acompanha, ou seja, o pai! É nesse exato momento que problematizo a experiência
de uma mãe, a qual carrega por nove meses um ser humano e a ele ou ela serve
como hospedeiro por longos meses da vida, que, em seu momento de destaque,
volta-se para o pai e faz dele um sujeito em distinção. Como e por quê?! Alguém explica?!
Por
fim, meu momento mais sublime das dissonâncias (sem querer entrar no mérito dos
famosos bonecos que ficam em cima do bolo, os quais, não raro, têm noivas "malucas" arrastando seus companheiros), se desenvolve quando o pai entrega sua
filha ao marido. Engraçado, mas eu não vejo homens sendo
entregues por seus pais às mulheres...
Compactuo
com a exigência de aportes capazes de subsidiar qualquer afirmação, mas, em se
tratando da História das mulheres, me parece praticamente improvável a
necessidade, neste caso, de uma historicização que dê conta de sua condição no passado (legitimada
por leis) no que diz respeito sua ausência de autoridade em privilégio do pai
ao marido, portanto, de forma prática e sucinta, é notória a percepção de que
naquele momento a mulher, assistida por sua mãe, passa da autoridade paterna
para a autoridade do marido (ainda que, atualmente, não sejamos mais embalados
por pretextos e determinações políticas – o conflito se converge no simbólico).
Enfim,
quem disser o contrário está intimado a me fazer enxergar. Quem sabe assim, um
dia, não seja eu subindo naquele altar?! Pera! Altar...Igreja...Mulher...Religião???
Acho que precisaremos de mais uma conversa...
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