Tomei a liberdade de parafrasear Vinícius de Moraes, com o único
propósito de reconstruir percursos “monocromáticos” da nossa vida sexual, em
especial, a das mulheres. Embora criada para ser criança, adulta e assalariada,
portanto, sem paralelos que dispusessem e esquadrinhassem toda a lógica
onipresente e, por que não, onipotente da sexualidade, tão logo compreendi as
maravilhas inequívocas de um bom e prazeroso sexo a três. Encerrada em um
quarto sem televisão e com horários para comer, dormir e estudar, desde pequena
alimentei a curiosidade primitiva da espécie humana de se tocar, e foi aí que
tudo começou.
Sob os lençóis de uma cama que mal me cabia em movimentos ainda
desjeitosos, haja vista a tentativa incipiente de me fazer gozar, tentei
exaustivamente descobrir meu corpo através da escuridão que monopolizava todo o
meu quarto e que, hoje, a reconheço como metáfora de uma vida feminina, que,
não raro, se mantém atada à necessidade de jamais enxergar – sua própria
sexualidade.
Ainda zelosa nos cuidados inseguros de não me dizer erótica, libertina,
ou qualquer outro termo carregado de problemáticas conservadoras que remontam aos
primórdios da nossa sociedade, sempre me mantive fiel à experiência de mim
mesma. Me toquei em pensamentos, entre linhas e trechos de livros desconexos ou
criados para alavancar imagens de uma memória ainda pouco à vontade com as
descobertas do auto prazer, me toquei com travesseiros, filmes, revistas e,
enfim, me toquei com os dedos.
Desde então, descortinei tabus que maquiam a sexualidade e aprisionam
pelos pés a mais audaciosa das mulheres. Agora grande, compreendo as vantagens
de um dia ter me tocado e entendido, ainda que sozinha, que meu sexo e a
capacidade de me autoamar já nascem comigo. Hoje, após, felizmente, também já
ter descoberto os milagres de uma boa e bela lambida na boceta, me conservo
partidária de um dedo no clitóris até que meus pés se comprimam e meu corpo
ganhe uma pequena curvatura acentuada pela explosão súbita e impetuosa
reproduzida por sinais sonoros que arranham todo meu corpo até ganhar os
ouvidos do sujeito que integraliza a exigência nada pueril de um bom e saboroso
sexo a três.
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